Os javalis estão cada vez mais numerosos em Espanha e, aos poucos, estão a tornar-se um problema em toda a Europa. Não só causam problemas em zonas agrícolas e periurbanas, como também estão a alterar ecossistemas naturais de elevado valor ecológico. Isso foi demonstrado por um estudo realizado na República Checa: as terras revolvidas pelos javalis estão a alterar o solo das florestas incluídas na rede Natura 2000. Para chegar a essa conclusão, percorreram 976 hectares perto da localidade de Hodonín e cartografaram 3.899 áreas. As consequências podem ser fatais para a estabilidade do terreno, pelo que os investigadores solicitaram medidas urgentes de gestão para travar um impacto que poderia afetar um em cada 10 hectares numa única estação.
Os javalis põem em risco a estabilidade das florestas da Europa
A investigação, conforme relatado no Research Gate, centrou-se nas florestas da República Checa, onde uma equipa científica analisou uma paisagem de carvalhais sobre areias (classificada como Monumento Natural e parte da rede europeia Natura 2000) para estudar a magnitude real da perturbação causada pelo javali Entre 2022 e 2023, percorreram 976 hectares perto da localidade de Hodonín, onde cartografaram 3.899 áreas de escavação. Ou seja, zonas onde os animais removem a camada superficial do solo em busca de alimento. Cada área foi medida com precisão: foi registada a sua extensão, profundidade, cobertura vegetal afetada e distância tanto a cursos de água como a pontos de alimentação artificial. Os resultados demonstraram um padrão muito claro, ou seja, a atividade concentra-se em torno de riachos e comedouros, mas diminui à medida que aumenta a distância a ambos. Além disso, as zonas mais afetadas são as massas maduras com carvalhos e azinheiras como espécies dominantes. A profundidade média do solo removido foi de três a quatro centímetros, o suficiente para alterar processos edáficos sensíveis.

Por que os javalis mudaram o seu comportamento
Entre os dois anos de amostragem, foi detectada uma mudança importante. Embora a superfície total perturbada tenha diminuído de 10,93% para 7,95%, a alteração por indivíduo aumentou. Segundo os investigadores, isto deve-se à menor produção de bolotas no segundo ano após uma colheita excecional anterior. Com a escassez do seu principal alimento, os javalis intensificaram a procura de raízes, bolbos e invertebrados, removendo assim mais solo por cabeça. Na verdade, não é a primeira vez que os cientistas alertam para o facto de os javalis agirem como um agente de perturbação ecológica. A sua escavação altera a estrutura física do solo, acelera os ciclos de nutrientes e facilita a chegada de espécies invasoras. Isto faz com que, em ecossistemas frágeis como estes bosques de carvalhos arenosos, as consequências incluam o risco de erosão hídrica e eólica e dificuldades para a regeneração natural de espécies valiosas.
O alerta dos cientistas para que protejamos as florestas
Os javalis têm demonstrado grande inteligência e estão cada vez mais numerosos, pelo que alguns cientistas defendem a revisão da densidade populacional, dos padrões alimentares e da localização dos comedouros. Não se trata de um assunto menor, pois em terrenos com solos finos ou inclinados, os danos pontuais podem escalar rapidamente para processos de degradação difíceis de reverter. Entre as medidas propostas destacam-se ajustar a pressão populacional, realocar ou reduzir o fornecimento de comida artificial e, em áreas de alto valor ecológico, instalar cercas temporárias para favorecer a regeneração.
