Esta invenção reaviva a imaginação coletiva e apresenta um cenário em que o banheiro do futuro poderia ser uma mistura de tecnologia avançada, relaxamento sensorial e automação absoluta: um lembrete de que, mesmo em algo tão cotidiano como se lavar, as possibilidades de inovação ainda podem surpreender. Num contexto internacional em que as grandes corporações competem para redefinir o conceito de bem-estar pessoal, o Japão situa-se, atrás dos famosos sanitários (tão na moda), no centro das atenções da tecnologia neste campo, com uma proposta que desafia qualquer ideia tradicional de higiene. A empresa tecnológica Science Co, sediada em Osaka e conhecida pelos seus projetos experimentais em automação doméstica, revelou um protótipo que poderia transformar completamente a relação entre as pessoas e as suas rotinas de cuidados: uma cabine de «lavagem humana» totalmente autónoma, concebida para limpar, relaxar e secar o corpo em questão de minutos através de tecnologias de última geração.
O dispositivo, apresentado sob o nome provisório de Human Washing Machine, não se apresenta como uma simples melhoria de um chuveiro moderno, mas como um salto conceptual que integra IA, microbolhas, sensores biométricos e elementos de bem-estar sensorial num único módulo compacto. A sua exibição pública despertou a curiosidade de especialistas em inovação, terapeutas especializados em bem-estar e analistas do setor do luxo, que vêem neste tipo de desenvolvimentos uma resposta à crescente procura por experiências personalizadas e automatizadas.
Longe de se assemelhar a uma casa de banho convencional, a cabina adota uma estrutura ovoide que lembra uma mistura entre as cápsulas de descanso japonesas e as câmaras de isolamento sensorial utilizadas em certos spas. Ao entrar, o utilizador deita-se numa plataforma ergonómica enquanto os sistemas integrados realizam uma varredura corporal completa. Por meio de um conjunto de sensores de temperatura, umidade e posição, o dispositivo ajusta os parâmetros de lavagem sem a necessidade de intervenção manual. Essa é, precisamente, uma das suas principais premissas: reduzir ao mínimo a ação humana para proporcionar uma limpeza eficiente, homogênea e o mais confortável possível.

Durante a demonstração, a Science detalhou que o processo padrão dura cerca de 15 minutos e é dividido em etapas. Primeiro, é gerada uma nuvem de microbolhas ultrafinas que cobrem a superfície corporal; depois, um enxágue morno remove as impurezas e os resíduos de sabão; por último, um sistema de secagem com ar quente de baixa intensidade deixa a pele pronta para continuar com a rotina diária. Embora a ideia possa parecer extravagante ou mesmo industrial, a empresa insiste que a experiência foi concebida para ser suave, imersiva e respeitosa com as peles mais sensíveis.
O coração tecnológico da Human Washing Machine reside nas bolhas ultrafinas, uma técnica japonesa que permite produzir bolhas de tamanho microscópico capazes de penetrar suavemente nos poros e arrastar partículas de sujidade com notável eficácia. Esta inovação, que já é utilizada noutras indústrias para processos de limpeza de alta precisão, adapta-se aqui ao âmbito dos cuidados pessoais com a promessa de limpar sem fricção, evitar irritações e otimizar o consumo de água. Além disso, o sistema monitoriza em tempo real o nível de hidratação da pele e regula automaticamente a densidade das bolhas para evitar secura ou excesso de produto.
No entanto, a proposta da Science não se limita à higiene. A empresa apostou em transformar a cabine num espaço multissensorial que procura aproximar-se da experiência de um spa. Uma combinação de vibrações de baixa frequência, iluminação ambiente personalizável e música envolvente acompanha cada ciclo de limpeza. Antes de fechar a cápsula, o utilizador pode selecionar perfis de som — desde melodias relaxantes a paisagens sonoras naturais — e escolher um aroma difuso para potenciar a sensação de bem-estar. O objetivo, explicam os seus desenvolvedores, é oferecer um tratamento integral que não só limpa, mas também reduz o stress, favorece a circulação e estimula um estado de relaxamento profundo.
O protótipo que a Sanyo apresentou na década de 1970

Embora o conceito possa parecer ficção científica, não é a primeira vez que o Japão experimenta máquinas de banho automatizadas. Na década de 1970, a então Sanyo apresentou um projeto chamado Ultrasonic Bath, uma banheira que aspirava lavar o corpo por meio de ultrassons e bolhas, sem que a pessoa tivesse que se esfregar. Esse produto nunca saiu da fase conceitual, mas tornou-se uma referência histórica da visão futurista japonesa em matéria de higiene. A Science reconhece abertamente que o seu novo protótipo é uma homenagem a essa iniciativa, agora reinterpretada com materiais antibacterianos, algoritmos de IA e sistemas de controlo contemporâneos que permitem dar um salto real em direção à comercialização.
De acordo com o roteiro apresentado pela empresa, a versão final do dispositivo poderá ver a luz do dia coincidindo com o 50.º aniversário da experiência pioneira da Sanyo. No entanto, a sua implementação será gradual. Numa primeira fase, a Human Washing Machine será instalada em hotéis de luxo, spas urbanos, centros de bem-estar e residências onde a automatização da higiene representa um valor acrescentado tanto operacional como de conforto. Se a procura evoluir positivamente e os custos de fabrico diminuírem, a Science contempla a introdução de um modelo doméstico mais compacto, embora o seu preço inicial rondasse os 330 000 euros, o que limita, por agora, o seu potencial massivo.
Apesar do seu impacto mediático, alguns analistas apontaram que ainda há questões por resolver: desde a durabilidade dos materiais submetidos a ciclos constantes de humidade até ao grau de aceitação social de uma máquina que assume uma tarefa tão íntima como a higiene. Ainda assim, a apresentação em Osaka reforçou a ideia de que o Japão continua a marcar tendências no campo da inovação doméstica, abrindo debates sobre o futuro dos cuidados pessoais e a possível coexistência em casa com dispositivos autónomos capazes de gerir funções que, até recentemente, pareciam exclusivas do ser humano.
